“SOU UMA ‘AVIS’ RARÍSSIMA”, diz Bruno Vicari ao editor deste pasquim, quando constato que poucos jornalistas – esportivos ou não – têm dois Ironman “full” no currículo.
Em 2009 e 2012 Bruno enfrentou os 3,8K de natação, 180K de pedal e 42,2K de cascalho, as distâncias que compõem o IronMan, e se prepara para em novembro cair na água da raia olímpica da USP para nadar 1,9K e assim abrir o 70.3, o meio Ironman que debuta em São Paulo.
Apresentador dos programas Bate-Bola Debate e Sports Center, da ESPN Brasil, Bruno fica no ar cinco horas diárias e trabalha atrás das câmeras outras tantas. Está feliz porque agora sua única folga semanal cai no sábado.
Não é fácil para quem malha tanto (no sentido “raiz”, de trampar) ter tempo considerável para o cascalho, mas Bruno diz que sua “prioridade é o trabalho”. Assim, seus seis treinos semanais duram uma hora, duas quando consegue dormir cedo para pedalar às 5 da manhã na USP.
A condição para dormir cedo é não haver jogos dos principais campeonatos de futebol na véspera, partidas de que ele tem de saber tudo na hora de formatar o programa vespertino.
RACHADINHA
A carga é pesada, mas esse paulistano de 36 anos não a deplora, muito pelo contrário. Desde 2011 ele se acostumou a trabalhar em dois turnos. No começo, dividindo-se entre a rádio Jovem Pan, onde começou sua carreira em 2004, e o SBT, em que foi o apresentador esportivo solitário dos telejornais noturnos; e de 2014 para cá fazendo a rachadinha entre o SBT e a ESPN.
Nas movimentações neurastênicas do jornalismo da emissora do Homem-sorriso, o posto foi limado em abril, e agora a dedicação à ESPN é total.
Bruno cobriu as copas do Brasil e da Rússia e a Olimpíada do Rio in loco, e na Jovem Pan também andou por vários esportes, Fórmula 1 inclusive.
No futebol não chegou a ser setorista de clubes, mas performou como “terceiro repórter” nos estádios nas tardes de domingo. Desde muito cedo aprendeu que jornalista esportivo não costuma ter Páscoa, Carnaval, às vezes nem mesmo Natal.
SOCIETY
Na ESPN alguns poucos companheiros de Bruno correm, uma amiga dedica-se ao crossfit, mas o futebol predomina. Vários colegas jogam o religioso society semanal – Bruno sequer sabe onde fica o campo.
Mas é fato que ninguém ali se aproxima de uma competição de triatlo, quanto mais de IronMan. Quando lhe pedem dicas de treino, ele dá apenas esta: “procure um educador físico.”
O jornalista disputou seu primeiro IronMan em 2009, em Panama City, na Flórida, de uma maneira um tanto açodada. Na ocasião ele jamais havia participado de uma maratona – e é justamente a corrida que costuma definir o resultado –, o que certamente contribuiu para o longo tempo de 12 horas. “Tive de andar pra caramba”, diz.
Três anos depois, ele se recuperava de uma fratura de clavícula a três meses da prova, agora a brasileira, em Florianópolis – e o consequente marasmo das oito semanas sem treinos. Mesmo assim baixou o tempo de seu segundo Iron para 11h30.
NOS TRINQUES
Tudo indica que o 70.3 de novembro vai ser bem mais suave. A bicicleta está nos trinques – ele participou este ano de um 131K pelas montanhas mais cabulosas do itinerário do Tour de France para fazer a série que pode ser vista pelo ESPN Watch.
O cascalho também não preocupa. No meio Iron (70.3) são apenas 21K, e ele já leva agora no currículo cinco maras (considerados os dois IronMan).
Além disso, ele é um dos selecionados de um programa de “performance” da marca esportiva Under Armour que acontece exatamente neste segundo semestre.
No programa, que não tem contrapartidas financeiras, Bruno e outros nove “amadores de elite” assistem a palestras de gente como Amyr Klink e Wallace (do vôlei), submetem-se a testes físicos e recebem apoio material.
Mas nada disso modifica o plano de treinamento que ele traçou com seu treinador dos últimos três anos, o coach Ronaldo Martinelli (o fundador da 5 Ways), especializado em pedal.
“DISNEY NÃO ENTRA PRA BRINCAR”
Em agosto, a ESPN Brasil perdeu nove de seus diretores e comentaristas mais graúdos. Foram demitidos justamente no momento em que a controladora americana, a Disney, desembolsou US$ 73 bilhões para ficar com toda a divisão de entretenimento da Fox.
Se programas como o nobre Linha de Passe perderam várias de suas estrelas, o BB Debate quase não sofreu baixas. Mesmo assim o assunto, segundo Bruno, foi compartilhado com os telespectadores.
Passado pouco mais de um mês daqueles dias aziagos, o momento atual, segundo Bruno, é de “arregaçar as mangas”. “A Disney não entra para brincar, e o recado que de alguma forma passaram é reestruturamos para investir mais, adquirir direitos esportivos, contratar pessoas, fazer novos cenários.”
O ÂNCORA MEIO ZEN
Na relação com os haters das redes sociais, algo hoje inexorável no dia a dia do jornalista esportivo, Bruno adota uma conduta apaziguadora.
“Tento equilibrar da melhor forma, não sou zen a ponto de não ligar para os xingamentos, mas penso que no dia seguinte posso vir a receber um monte de elogios. Redes sociais não me fazem perder o sono.”
De toda forma, como mediador e apresentador de dois programas, Bruno Vicari não é o cara da “opinião polêmica”.
Mas todos ali, não só ele, têm de lidar com telespectadores que são também torcedores fanáticos, e que podem se enervar com uma pauta menos edulcorada ou com o tempo insuficiente dado ao clube do coração no BB Debate.
“Quando falam que temos telespectadores que são fanáticos, digo graças a Deus, do contrário eles não passariam três horas na frente da TV me assistindo.”
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