COM ELE NÃO DAVA PARA SER indiferente. Era goste ou odeie – era mais fácil odiá-lo, acho. Mercurial, parcial, intenso, Paulo Nogueira, que deixou este plano ontem precocemente aos 61 anos, foi o homem com quem eu trabalhei em 30 anos de redação que certamente mais amava o jornalismo.
Amar aqui tem significado amplo. Paulo, qual um cavalo do candomblé, talvez incorporasse, recebesse o jornalismo, se jornalismo fosse uma entidade. Ou também, como uma espécie de sacerdote ou exegeta, Paulo traduzisse o jornalismo, caso este fosse uma religião ou uma língua estranha.
Mesmo em funções diretivas, burocráticas, gerenciais, se metia com intensidade no fazer das revistas que liderou nas editoras Abril e Globo.
Ainda que fosse um dos dez especiais mensais da publicação menos importante sob seu comando.
Relembro uma passagem que me parece modelar. Editava pela Viagem e Turismo com o então diretor de redação de Placar, Sérgio Xavier, hoje Treinador, um especial mezzo turismo mezzo esporte sobre a Copa da Alemanha de 2006. A matéria de abertura, essencialmente sobre futebol, tinha o título A melhor copa de todos os tempos.
Embora avaliasse criteriosamente o desempenho das seleções que chegavam àquela edição do torneio, a reportagem tinha um título que soava muito mais como peça promocional do que algo realmente jornalístico, até mesmo por se servir de pura e suspeitíssima futurologia.
NÓS QUE AMÁVAMOS TANTO O JORNALISMO
Ainda que essa edição especial se tratasse de uma entre centenas de publicações sob o guarda-chuva do Paulo, a última da última da última das prioridades do sujeito naquele dia, ele nos fez ver com eloquência (e altos decibéis) que cometíamos um equívoco.
Depois de ouvirmos sob a Copa de 1970, Pelé & Rivelino (Rivelino era seu ídolo maior, junto com seu pai Emir Nogueira e talvez Lennon & McCartney), SX achou a solução, mantendo o título, mas acrescentando um sinal de interrogação.
No Diário do Centro do Mundo, site que criou com seu irmão Kiko Nogueira, há um obituário assinado pelo Kiko. Linko-o aqui.
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